Atualmente a lombalgia, popularmente conhecida como dor lombar, afeta mais da metade das pessoas de forma constante. E até 85% da população terá essa dor em algum momento da vida.
Embora existam fatores psicológicos e sociais por trás de tal problema, o estresse mecânico sempre tem um papel importante no desenvolvimento do mesmo, e a fisioterapia é de extrema importância na atuação desse fator.
Mais da metade das lombalgias são idiopáticas, ou seja, sem causa definida. Mas dentro dos fatores que podem causá-la, podemos citar as hérnias de disco entre as principais causas, sendo a maior incidência na coluna cervical e lombar.
A hérnia ocorre quando as fibras do disco intervertebral, que contém o núcleo pulposo (substância que os forma), se rompem. A função dos discos é absorver impactos do dia-a-dia, e podemos compará-los a uma bolsa de gelatina entre cada vértebra.
Disco Intervertebral Hérnia de disco
Independente de fatores externos, os discos começam a degenerar-se a partir dos 20 anos de idade. Mas fatores como o peso corporal, tensão nos ligamentos e músculos, pressão intra abdominal (conseguida também através de fortalecimento) e cargas externas contribuem para a preservação discal.
As sobrecargas na coluna fazem os discos perderem água (90% da sua composição) como um mecanismo de auto proteção. Ao aliviar a carga, a água é reabsorvida. Porém a sobrecarga contínua e o envelhecimento tornam esse mecanismo cada vez mais ineficaz, e os discos passam a diminuir sua capacidade de reabsorção de água (ficando desidratados e suscetíveis a lesões) e consequentemente de absorção de impactos.
Ao contrário do que se imagina, ficar sentado gera mais carga de compressão sobre a coluna do que manter-se em pé, sendo que manter a postura desleixada, mesmo que agradável, é um agravante para tal.
A nutrição dos discos é feita através de mudanças posturais. Por isso, manter-se fixo, independente do conforto, por longos períodos, é prejudicial.
Além da postura inadequada, movimentos súbitos ou excessivos, e o uso de apenas uma mão constantemente para carregar pesos predispõe a lesões na coluna. Um único e simples movimento com uma carga elevada pode ser o suficiente para que a lesão ocorra; ou ainda diversos movimentos com cargas pequenas.
Dentre os movimentos mais agressivos para os discos encontram-se os de rotação da coluna. Não que não devam ser feitos, mas durante exercícios é preciso a orientação de um bom profissional e no dia-a-dia devem ser realizados da forma menos brusca possível e nunca carregando-se cargas elevadas.
Aliás, a velocidade é praticamente decisiva na incidência da lesão discal. Quanto mais lento um movimento, menor a carga compressiva sobre a coluna.
E vibrações também são prejudiciais aos discos. Comuns em cadeiras de massagem, provocam uma piora considerável em quem se arrisca a resolver o problema sem orientação profissional.
Sendo assim, após explicações básicas sobre o mal que acomete uma boa parte da população, torna-se necessário explicar qual é o papel da fisioterapia dentro da lombalgia.
Pode-se dizer que a base para uma coluna sem dor é a estabilidade e a flexibilidade. Mas infelizmente o que parece simples não pode ser realizado de qualquer forma, porque o que é benéfico para uma pessoa sem dor pode piorar e muito um quadro onde já existe um problema.
O princípio do tratamento é o ganho de estabilidade para a coluna, que ocorre através da ativação de músculos específicos que irão aumentar a pressão intra abdominal (lembrando que essa pressão em excesso também provoca dor).
Vale explicar que esses músculos devem ser ativados o tempo todo, e para que isso ocorra faz-se necessário um foco em resistência (que fará com que mantenham-se contraídos por muito tempo sem fadigar) e não força, o que explica o índice de dor e lesões em atletas e praticantes de exercícios como musculação.
O famoso abdominal é importantíssimo para o ganho desse aumento de pressão. Entretanto, os convencionais, onde se realiza uma flexão total de tronco, independente das pernas estarem dobradas ou esticadas, geram uma carga de 3.000 Newton na coluna, o equivalente a 305,91 Kg (imagem 1). Em contrapartida, esses mesmos exercícios com o tronco fletido parcialmente diminuem a carga compressiva gerada (imagem 2).
Já a flexibilidade, ao contrário do que se pensa, não é sinônimo de alongamento. Ser flexível é conseguir mover todas as partes do seu corpo no limite máximo (o que não se consegue de um dia para o outro). O alongamento é um exercício para ganho de flexibilidade, porém implica em sustentar a posição por no mínimo trinta segundos. Mas quando o tecido neural (o tecido que recobre o nervo) ou o próprio nervo estão acometidos, fato comum nas hérnias discais, o alongamento agrava o quadro uma vez que estira o tecido e diminui o suprimento de sangue para uma região muito sensível e já danificada. Portanto, é preciso outro recurso, como a mobilização neural, para o retorno da flexibilidade sem danos adicionais.
Além das técnicas e recursos convencionais que a fisioterapia tem a disposição para o tratamento da dor lombar, seja ela idiopática ou secundária as hérnias por exemplo, pode-se citar o método Pilates, tão divulgado atualmente, como um excelente coadjuvante, desde que adaptado para cada necessidade e aplicado por um fisioterapeuta nos casos em que o objetivo é a reabilitação. Esse método trabalha com foco na ativação da musculatura profunda que estabiliza a lombar, movimentos suaves, e uma gama de abdominais com flexão parcial de tronco. Todavia, possui alguns exercícios agressivos e prejudiciais quando a instabilidade da coluna ainda é grande; além do foco em alongamentos que podem ser contra indicados.
Sendo assim, é de fundamental importância uma avaliação fisioterapêutica minuciosa para traçar-se o plano de reabilitação, além da adaptação de métodos parcialmente benéficos como o Pilates e a adição de outros recursos que se fazem necessários. Portanto, cuide da sua saúde buscando um tratamento individual e personalizado que fará toda a diferença no futuro.
Referência Bibliográfica:
Hall J, Susan. Biomecânica da coluna vertebral; 277 - 317. In: Hall J, Susan. Biomecânica Básica. Editora Manole. 2009: 5ª edição.
Referência para a conversão de Newton em Quilograma:
http://www.convertworld.com/pt/massa/Kilonewton.html
Imagens: Internet.